Nesta terça-feira, 14 de novembro, os membros da Comissão Mista criada para apurar o rompimento do reservatório de água da Casan, no Monte Cristo, em Florianópolis, realizaram mais uma reunião com oitivas. Desta vez foram ouvidos três fiscais da Casan, responsáveis pela coordenação e fiscalização da obra do reservatório R4. Também estava prevista a participação de servidor da Caixa Econômica Federal, designado como fiscal do Contrato n. 0966/2022, que não compareceu.
O relator da Comissão Mista, deputado estadual Mário Motta (PSD), fez diversos questionamentos ao engenheiro sanitarista e ambiental, Adalberto Cunha Júnior; ao engenheiro civil, Marcelo de Vasconcelos de Araújo; e ao engenheiro sanitarista Maurício Silva Andrade.
Entre as primeiras indagações, o parlamentar salientou o atraso da obra em mais de 2.500 dias. Com relação à demora, o engenheiro Adalberto Cunha apontou como fatores a regularização da área e corte de vegetação e questionou ainda a qualidade do projeto. “Por causa das estacas pré-moldadas, no primeiro dia de cravação, as casas no entorno tremeram e a obra foi paralisada”, lembrou.
Na sequência, os profissionais responderam sobre a qualidade do concreto, pois no diário de obra, o fiscal da construtora menciona que para o reservatório do Monte Cristo foi adotada medida diferente de controle do concreto do que estava previsto em contrato. O engenheiro Adalberto garantiu que a construtora sempre buscava reduzir custos, porém a Casan seguiu com a exigência de contratação de empresa terceirizada e renomada para a verificação da qualidade do material.
O deputado Mário Motta enfatizou as divergências entre o projeto estrutural e a execução da obra. Ao analisar relatórios elaborados pela Casan, a equipe de fiscalização do parlamentar identificou três diferenças. No entanto, na reunião anterior, o engenheiro Paulo Henrique Wagner, da empresa Toposolo Arquitetura, Engenharia e Topografia, responsável pelo projeto, salientou que, após o desastre, foi até o local e encontrou sete pontos divergentes entre o projetado e o executado.
Com relação aos estribos com diâmetro divergentes do projeto, com ¼ da resistência planejada, e sobre as barras do pilar inadequadamente posicionadas, os fiscais afirmaram que durante toda a execução da obra surgiram muitas dúvidas com relação ao projeto e que no dia 14 de novembro de 2017, o engenheiro Paulo Wagner da Toposolo esteve no local para alguns esclarecimentos. Segundo o profissional da Casan, na ocasião os estribos já estavam instalados e o ferro todo pronto para concretagem, mas o engenheiro não fez nenhum questionamento ou apontamento que indicasse diferença entre o projetado e executado.
“Dentro da nossa amostragem, a gente confessa que acabou não identificando essa diferença” admitiu o fiscal da Casan, Adalberto Cunha, e complementou dizendo que a Gomes&Gomes, responsável pela construção do reservatório, não solicitou em nenhum momento autorização para alteração do projeto.
O relator, deputado Mário Motta, buscou esclarecimentos também com relação à armadura adicional de ligação pilar-parede que, apesar de projetada, não constava na obra do reservatório, e sobre as 10 toneladas de aço a menos na estrutura, como mencionado pelo engenheiro Paulo Henrique Wagner, na reunião da semana passada.
“A Casan contratou perícia de projeto e executivo. Por isso, até então não há como dizer que estão faltando 10 toneladas de aço”, comentou o engenheiro Adalberto.
Diversas vezes durante a sessão, os fiscais da Casan ressaltaram a dificuldade em ter conhecimento de todos os contratos em andamento, além de admitir falhas nos registros das obras e arquivamento dos documentos.
Para o deputado Mário Motta ficou clara a falta de arquivos, o que dificulta o esclarecimento sobre pontos importantes. “Há dificuldades no processo de fiscalização da Casan, uma vez que do reservatório de Forquilhinhas há registros de toda a obra, o que não ocorre com relação ao Monte Cristo. É evidente que os processos precisam ser aprimorados”.
Próximas reuniões
Na terça-feira seguinte, 21 de novembro, devem comparecer representantes da Polícia Científica em Florianópolis e da Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc). A participação da Polícia Científica e da Aresc é fundamental, pois os órgãos elaboraram relatórios sobre o rompimento e as informações contribuirão para a apuração da Comissão Mista.
No dia 28 de novembro, o diretor-presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Edson Moritz Martins da Silva, será novamente convidado a comparecer para prestar os últimos esclarecimentos.
Também está prevista a presença de profissionais da Construtora Gomes&Gomes Ltda., responsável pela obra do reservatório, em data a ser definida, e por solicitação do deputado Marquito (Psol) serão convidados o presidente da Associação de Bairro, ao menos um representante da Comissão dos Atingidos pelo Reservatório R4 – Monte Cristo, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB); além da Defensoria Pública e Tribunal de Contas do Estado (TCE/SC).
A Comissão
Criada no dia 11 de outubro, a Comissão Mista é composta pelos deputados Ivan Naatz (PL), presidente; Marquito (Psol), vice-presidente; Mário Motta (PSD), relator; e pelos deputados Maurício Peixer (PL) e Lunelli (MDB) como membros.
A Comissão é formada por parlamentares da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público e da Comissão de Turismo e Meio Ambiente e tem um prazo oficial de 60 dias para concluir os trabalhos.
Ouça a cobertura da Rádio AL:
Departamento de Comunicação do deputado Mário Motta | Texto: jornalista Cláudia Teixeira
Fotos: Vicente Schmitt / Agência AL